segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Raul

Raul acordou com vontade de mudar. De fazer algo diferente. Revolucionar a sua vida e a algumas mais. Mas não consegue sair da mesmice e viver revolução. Apenas sonha com a vitória, porém anda na rotina de alguém cansado e angustiado. Vive limitado pelo seu próprio medo e acomodação. Sente pena de si próprio e, às vezes tenta rever conceitos nunca vivenciados ou aprendidos. Procura realizar provas sem preparos. E, deste modo fracassa todas as vezes. Reprova dia após dia, pois não pensa três segundos sobre o que deve fazer. Então levanta disposto a mais um dia sonhado e mal planejado. Acorda com vigor físico e empecilhos mentais. Raul demora na hora de mostrar a virtude. É covarde. É ignóbil. É vil.
Ele sabe. É ciente disso. Não consegue desgarrar do passado nenhum segundo. Vive lamentando as derrotas passadas ao invés de superá-las. Lembra dos acontecimentos pretéritos, e, ainda assim lamenta dizendo que devia fazer e falar diferentes do jeito que agiu. Mas não! Há uma cortina. Não só uma, mas duas ou três. Tampam o seu horizonte. Tão novo. Tão jovem. Tem uma catarata nos seus olhos. Doença de velho. Mas os velhinhos podem. Estão cansados de viver. Para que mais? Raul não se cura. Não admite o seu desdém. E fala todo dia que vai mudar:
- Ah! Eu vou mudar hoje.
Ele é uma estrada plana cheia de curva. Sempre disseram que ele devia ser como uma escada, sempre subindo. De degrau em degrau. A cada dia subindo um degrauzinho. Ele é diferente, para em certos lugares sem saber para onde ir. Almeja a estrada plana. É só isso que sabe fazer. Tem tantos talentos. Pernas boas para correr e subir escadas. Tanta sabedoria. Mas se cala na hora de falar. Tagarela no momento de silenciar. É só isso que sabe fazer. Coisas certas em horas erradas.
Se sente estranho diante de alguns. É louco. Parece mais um camaleão. Dissimulado. Mas não o é. Apenas busca adaptar-se em lugares esquisitos, com pessoas escabrosas. Sabe que é assim. Sabe que tem que ser assim.

Pessoa estranha. Sonhador e amarrado. Não é mesquinho. Tem muitos amigos, apesar de tudo. Tem aparência de brasileiro. E isto é crível. Pensa sobre tudo, mas todos discordam das suas idéias. Já disse, ele é louco, porém amigável. Tem amor e dissabor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário